segunda-feira, 10 de maio de 2010

O Dia das Bruxas V


Como sei que trabalhar em Jornal não é fácil e deve haver dedicação e sacrifícios, para tanto deixei este texto guardado, para ser postado, como a chave de ouro no encerramento do Dia das Bruxas, vamos a ele então:

Esta história começa, num dia, às vésperas do Dia das Bruxas, e é sobre uma mulher de classe média alta, que torturada por terríveis e monstruosas visões. Um dia ela desperta, pela manhã do dia 31 de Outubro, em meio aos cadáveres de seus entes queridos, dilacerados, no meio da sala de seu moderno e luxuoso apartamento.

Olha a sua volta, e vê sangue para todos os lados. Porém, o curioso, é que ela está estranhamente limpa, e vê-se, usando uma toga branca, que sequer lembrava-se de ter posto.

Curiosa com o fato e ao mesmo tempo nervosa, com o mar vermelho coagulado, em seu lindo tapete felpudo, que vê diante de si, ela corre até a área de serviço, a procura de um balde e um esfregão. Pois seu primeiro impulso é de repugnância ao horror espelhado na sala e a idéia fixa de se limpar a sujeira.

Porém, na área de serviço, quando esta prestes a pegar nos objetos necessários, ela para por um momento e pensa, mas o quê aconteceu? E olha dentro do balde, e não consegue ver o seu reflexo. Porém ouve uma voz cavernosa, como se viesse do outro lado do imóvel, que diz em alto e bom tom: " À meia-noite...À meia-noite... Espere pelo julgamento..."

Arrepiada, pergunta quem está aí, mas ninguém mais responde. Volta a sala, e resolve que chamará a polícia. O pior de tudo, pensa, é que não se lembra do quê aconteceu. Vê o esposo, com quem nunca teve filhos, o irmão e o sobrinho, e ao lado dos corpos, um machado tingido de vermelho, não sente compaixão, só fica pensando na sujeira, na confusão que isso trará para ela.

Corre até o quarto, e se depara com uma cena estranha, pois em cima da cama, ela mesma, com um revólver a mão, jazia deitada e prostada de costas, olhando portanto para o teto. Olhos castanhos vívidos, olhando para o infinito e junto a têmpora, um filete vermelho ressecado devido a coagulação.

Quase desmaiou, porém, ao invés disso, foi encarar o corpo, que parecia um boneco de cera, do museu de Madame Tossaud. Seria uma brincadeira de mal gosto de seus parentes?

Olhou de perto, e parecia muito real. Porém o quê estaria acontecendo? Pensou muito, foi a sala novamente e se deparou com aquela cena. Surreal, bem ali no meio de sua sala. Já não sentia mais nojo, sequer medo, estava agora fria, após o choque que sofrera e agora examinava bem de perto os corpos.

Já havia cheiro, e portanto não era realmente uma brincadeira. Era verdade. E correra novamente ao quarto, na esperança de entender o quê estava acontecendo. Sentou-se a cama, ao lado do corpo, e pensou: " Para quem ligo primeiro? Bombeiros ou polícia?"

Mas que tolice, pois se haviam colocado até uma perfeita sósia, para assassinarem em seu lugar. Porém, com que intuito? Seria uma louca, amante de seu marido, que adentrou o apartamento e matou a todos? E quando a viu, teve um choque e se suicidou?

Seja como for, ela era perfeita demais e isto a incomodava. O mesmo gosto pelas roupas, pelas jóias e até sabia onde estava a arma de seu esposo, pois pelo visto era a dele que jazia em suas mãos pálidas...

Ficou ali, sentada meditando por horas, caiu a noite, e ela sem se ater para as horas que passavam, tentava entender o quê estava acontecendo. A sua sósia, até descuidadamente deixou a porta do closet de seu quarto, aberta, pensou, e fez evidente bagunça. Ela detestava confusão, sendo metódica, resolveu arrumá-las. Porém dentro do clouset, envolto em trevas, ela resolveu ligar a luz, o quê não ocorreu. Ouviu o carrilhão do corredor, herança de seu avô, tocar as doze badaladas.

Minutos depois, antes mesmo de tocar em qualquer peça de roupa, assustada ouviu a mesma voz fantasmagórica, troar pela casa, novamente dizendo: " O julgamento esta encerrado, que seja executada a sentença." Sentiu um arrepio, e quando se virou para o fundo do armário, viu seis olhos vermelhos, emergirem do nada, do fundo do closet escuro, como se viessem de longe, como se o armário embutido fôsse um túnel ou uma passagem. Nos seus pés, uma névoa gelada e vermelha brilhante a envolvia. Assustada, ainda tentou correr, para fora, porém a porta se fechou trancando-a. Os seis olhos vermelhos, bem próximos de si, e um bafo gélido, foram as últimas coisas que sua alma viu neste mundo.

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