segunda-feira, 10 de maio de 2010

O Dia das Bruxas II


Há também a história da cidade que tinha tantos buracos em suas ruas, que pareciam um queijo suíço. Dizem que uma bruxa amaldiçou a cidade há muitos e muitos anos, por conta de seu IPTU que era altíssimo e por que não lhe era concedido o desconto, devido a sua alta idade. A mulher de duzentos anos de idade ainda se prestara a parar em filas, mais de uma vez, pois sempre faltavam documentos, segundo lhe informaram, com sua vassoura à mão, para fazer seu cadastro de isenta. E além de ser muito mal atendida por funcionários que estavam preocupadíssimos com seu habitual chimarrão, negaram à ela, ainda por cima, o direito à isenção.

Furiosa com tal descaso, ela tirou de sua toga negra, uma varinha de condão, e amaldiçoou os funcionários, dizendo-lhes inclusive, que estes não teriam mais paz em seu ofício, que seus salários um dia seriam reduzidos, e que se manifestassem e resolvessem entrar em greve, angariariam a antipatia da população local. Disse ainda que para os que duvidassem de sua maldição, que a cidade toda, pagaria pelo descaso de seus políticos, pois daria de presente a esta, tantos buracos, quanto foram contadas as crateras da lua. Estes riram da velha, bem como de seus ditos, e esta saiu furiosa do Palácio Municipal e nunca mais foi vista.

Próximo à Prefeitura desta cidade, surgiu um pequeníssimo buraco, que sem muita impôrtância dada, não foi reparado. E assim, vários buraquinhos iam surgindo, ao longo das vias, sem maiores consequências. Quatro anos foram passando e os buracos, mágicos, começaram a crescer e crescer. A cidade trocou de prefeito, na esperança de que este resolveria os problemas mais urgentes da cidade.

Alguns buracos eram imensos e quebravam rodas e ponteiras de eixo de automóveis incautos que se aventuravam pelas ruas. O prefeito, mais preocupado em aprovar leis bobas em relação a supermercados e minimercados, não via que inclusive os buracos estavam em número tal, que seria um milagre se logo não aumentassem mais e engolissem os carros, ao invés de danificá-los.

O prefeito chamou um bispo para benzer cada buraco, porém além das benzeduras não funcionarem diante evidente maldição, eram tantos que seria necessário pelos menos uns mil bispos ou padres para se tentar exorcisar este fenômeno que se alastrava pela cidade toda. Infelizmente quiz ainda o destino, que por perder tempo com questões tolas e pouco práticas, o prefeito não visse que há quatro gestões passadas haviam sido vendidos os equipamentos de reparo e manutenção das vias públicas, fato este, que traria demora à solução do problema.

Os buracos começaram a se unir, pois a distância entre eles havia diminuído, de modo que agora engoliam carros, caminhões, bicicletas e o que se atrevesse a se aventurar na malha asfáltica. As obras que começaram com atraso já não comportavam o tamanho do problema e o prefeito já tinha mais uma preocupação, pois em nome da economia do erário, tencionava mudar o plano de carreira de seus funcionários municipais, uma vez que havia um buraco no orçamento do erário público.

Diante a uma greve iminente e buracos que não paravam mais de crescer, o prefeito, em desespero, foi procurar pela mulher, que segundo algumas pessoas que presenciaram o fato, indo procurar a Prefeitura anos antes, diante os problemas que se manifestavam na cidade, haviam presenciado a cena da maldição. Resolvido a dar um fim àquela maldição terrível que agora além dos problemas com funcionários, antipatia popular e dos buracos que se alastravam em direção às calçadas, engolindo cidadãos incautos que ali trafegavam, iria procurar a bruxa.

Ao chegar, no alto da montanha mais alta dos arredores da cidade, o prefeito gelou e se arrepiou todo, pois no local onde deveria estar a casa da mulher, havia apenas um buraco quadrado.

A moral desta história, pode ser: jamais subestime uma bruxa.

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