segunda-feira, 10 de maio de 2010

O Dia das Bruxas IV


"Jamais contrarie a vontade do morto". Esta é a moral que meu avô passou, em um conto que apesar de não ser de terror, chegou até mim e acho que serve também para marcar o Dia das Bruxas. Fosse para fins de distrair-me ou não, meu pai repetiu esta história assim como ele, algumas vezes na minha infância.

Pelos idos dos anos 50, haviam duas casas funerárias em Novo Hamburgo, sendo que uma delas, a mais antiga, pertencia aos meus tios-bisavós, Edmund Porsche e Teolina Schneideir Porsche, localizada hoje, na travessa da Avenida Pedro Adams, com a Júlio de Castilhos, no Casarão da Droga Rio Matriz. E o tio Edmund bem como seus filhos, dirigiam os diversos carros fúnebres, oferecendo o serviço ferétrico para diversas famílias da região.

Conta-se que certa vez, meu avô que trabalhava de motorista para uma firma de calçados e que as vezes também fazia um extra, pilotando os rabecões dos tios, para o ganho de uma graninha extra, gostava de tomar um "schneips" no antigo Café Avenida. E um amigo dele e dos primos dele, bebia demais, sendo que muitas vezes saía do referido estabelecimento carregado pelos companheiros de copo. Um dia, um dos clientes habituais do estabelecimento disse ao homem que este ainda seria levado pelo rabecão do Edmund, de tanto beber, quando este passava por ali, ao que respondeu indignado: "No dia em que me for, carro fúnebre algum me carregará para dentro do Municipal. Terão de me levar até o meu túmulo me carregando nos braços, decentemente."

Passaram-se meses, e em agosto daquele ano o rapaz, de tanto beber, morreu. O ofício foi prestado pela empresa de meus tios. Meu avô foi chorar a morte do amigo e compareceu às cerimônias religiosas, além de ir ao enterro dirigindo o rabecão.

Porém, quando o carro fúnebre chegou no limite do portão do Cemitério Municipal, o automóvel simplesmente parou de funcionar. Ele não morreu e não apagou, simplesmente desligou mesmo e não havia Cristo que o fizesse pegar ou ligar. Sendo que amigos e familiares como o meu avô, empurraram o veículo e parecia que uma mão invisível gigante não permitia, que o veículo se movesse para frente um centímetro que fosse.

Então desceram o caixão do carro e o levaram a pé até o fim do cemitério (perto de onde hoje estão as famosas gavetas), carregando-o nos braços, para enterrá-lo no jazigo de sua família.

Meu avô comentou ainda que a cada passo que davam o caixão parecia mais pesado, isto que o dito homem não era gordo ou grande, sendo então franzino, de modo que ninguém poderia explicar que tal peso morto, pudesse ser tão pesado. Porém este ficou mais leve, uns poucos passos, próximo ao túmulo.

Foram feitos os ofícios religiosos e após as últimas despedidas, todos foram saindo de perto e indo embora pelo portão principal. Qual não foi a surpresa, para meu avô, os primos dele, os amigos e a própria família do rapaz, quando na porta do Cemitério Municipal, o carro fúnebre antes desligado, esperava por eles, com motor e faróis ligados, como se nada houvesse acontecido? Se a história é mais uma lenda urbana, não sei, porém dados os fatos que foram narrados e mais amigos do meu avô, confirmaram porque presenciaram o evento, aprendi a respeitar mais os fatos sobrenaturais e a famosa frase de Eistein: "Há mais coisas entre o céu e a Terra do que supõe a vã filosofia."

Um Feliz Dia das Bruxas a todos os amigos leitores do NH Online!

(Publicada em série 30 de Outubro de 2009, véspera do Dia das Bruxas.)

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