segunda-feira, 10 de maio de 2010

O Dia das Bruxas III


Havia em uma pequena cidade um funcionário de um curtume, que habituado a fazer o que queria, e cometer as maiores injustiças e barbaridades possíveis, um dia se deparou com um fato estranho.

Este dizia sempre às pessoas com quem se envolvia em suas relações íntimas, que "ninguém era de ninguém", jamais se apaixonara de fato, levando apenas para as pessoas, a ilusão e as promessas de casamento, sendo que depois abandonava as pessoas a quem enchera de esperanças. Sempre dizia a si mesmo que não podia se apaixonar, e por isto, se transformara em um canalha.

Criado durante o período da famosa "Lei de Gérson", subiu em sua carreira na empresa em que trabalhava, puxando o saco, e inclusive, sendo um garoto de programa pago por um dos seus patrões. Em suma um gigôlo também. Ainda tinha a audácia de se servir dos automóveis pertencentes a mesma empresa, bem como da família dona desta, sem que seus superiores o soubessem, e apresentava inclusive, tais veículos de patrimônio de outrem, a amigos e família como se seus o fossem.

Um dia, após magoar mais uma pessoa, seriamente, com a sua canalhice e frieza, habituais, e sair do apartamento desta, que gritava de inconformidade, pela desilução e lodo deste homem, as mais terríveis maldições e impropérios, aos quais este último, que chamaremos de João, fazia ouvidos moucos.

Acontece que ao sair do prédio, se deparou na porta com um gato preto. Mas ao invés de atravessar o seu caminho como se espera, em lendas e superstições, o animal parou e se pôs a olhar fixamente em seus olhos, o que deixou-o arrepiado. O gato ficou ali, olhando para o homem, e este teve a sensação de que se passava uma eternidade. Porém poucos minutos após, o animal parou de olhá-lo e seguiu o seu caminho.

Na mesma noite, algumas semanas antes ao Dia das Bruxas, o tal homem teve os mais terríveis e medonhos pesadelos, tendo como protagonista ainda o gato preto e seu olhar fixo. No dia seguinte, antes de ir ao trabalho, o impiedoso homem, ao fazer a barba no banho, teve seu espelho rachado ao olhar para ele. Fora isto, um tombo no box do banheiro lhe concedera terríveis dores. Tivera sorte em não se ferir seriamente, pois estava só em seu apartamento.

Daquele dia em diante, ainda a cotação do dólar, começara sua queda vertiginosa, e como vendedor de couros, sua gorda comissão, poderia ser afetada seriamente no futuro, ameaçando seu padrão de vida. Para seu azar, ainda naquele mesmo dia, recebera mais uma péssima notícia: seu pai recebera o diagnóstico, do oncologista, e sendo o único filho homem de quatro filhos, se sentia responsável pelo custeio em parte do tratamento do câncer do homem idoso.

Vendeu o apartamento o qual detinha apenas as chaves, os carros de luxo, e comprara portanto um usado mais popular e alugado um pequeno quitinete. Ainda por cima as noites eram um suplício, pois detinha mis pesadelos, e sua onda de azar era interminável.

(continua)

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