segunda-feira, 10 de maio de 2010

O Dia das Bruxas III - Conclusão.


Seu joelhos começaram a incomodar e precisou de uma cirurgia em um deles. O dinheiro assim que chegava, ia embora, e o grosso fora usado no tratamento de seu pai, que acabara por morrer. Os pesadelos com o gato e outros fatos surreais o atormentavam, que chegou a pensar que o quitinete em que morava era o fator principal. Então mudou-se para a casa da mãe, utilizando o espaço para encontros íntimos. As cotações do dólar o infernizavam e durante anos não conseguiu mais reaver seu patrimônio perdido.

Sempre às vésperas do Dia das Bruxas, João tinha mais pesadelos, pois se não tinha consciência, como podia ter se deixado atingir, por um simples olhar de um animal irracional? Cismado procurou a Madame Ment´e Rosa, médium espírita vidente e mãe de santo nas horas vagas, além de cigana, que disse que este deveria acender uma vela amarela em Dia de Finados, para que sua situação melhorasse, pois estava azarado, por maus atos que deveria corrigir de pronto.

Como era mais fácil acender uma vela, João o fez, porém dali em diante mais desgraças ocorreram. Suas irmãs se divorciaram e foram morar com ele, a mãe levando suas sobrinhas junto. A operação no disco do joelho começara a incomodar. Uma das irmãs mais novas começou a manifestar mais problemas de saúde, engordando anormalmente e ficando com o rosto tão inchado que as pessoas a confundiam com o Fofão do Balão Mágico. A empresa onde travalhava há quinze anos dava sinais de fraqueza, ameaçando volta e meia fechar as portas, unicamente porque o volume exportado estava muito menor que anos antes. A mãe morrera de causas desconhecidas, pois seu exames anteriores não acusavam doença e ele mesmo estava se sentindo doente.

Uma noite, anos depois, na véspera do Dia das Bruxas, além de estar seriamente ameaçado em perder seu trabalho, ainda tinha que sofrer processos judiciais, de ex-namoradas e namorados (pois não é que João era bissexual?) por danos morais e psicológicos que ele infringira a várias pessoas, concluiu que unicamente, estes todos os fatos ocorridos aconteceram por ele ser um egoísta de marca maior. E não poder, segundo ele mesmo, se apaixonar, promovendo o mal ao coração de diversas pessoas, que estavam evidentemente revoltadas com ele e seus maus hábitos.

Resolveu então, voltar ao local onde o gato aparecera anos antes, só que desta vez, realmente arrependido por seus maus atos e disposto a pedir perdão a garota que magoou. Ao descer de seu carro, agora popular, foi à frente do edifício e viu que havia uma placa de aluga-se e vende-se, no apartamento correspondente ao de sua namorada na época, a quem enrolou durante meses e meses.

Encontrou o porteiro e perguntou se a fulana de tal não morava mais ali, ao que este respondeu que ela havia morrido há alguns dias e a família havia posto o imóvel para aluguel ou venda. Desiludido, pois queria realmente ser perdoado e ter o fim de seu azar, João sai do prédio e se depara mais uma vez, com o mesmo gato, que a estas alturas deveria estar morto. O animal parou novamente, olhou fixamente em seus olhos e João viu faíscas vermelhas brilhantes como fogos de artifício saindo dos olhos do gato.

Com dificuldades e de joelhos, João pediu perdão, disse que se arrependeu, que fora maldoso, que cometera maus atos e que faria o possível para se corrigir. Ao que o animal, pronunciou seu nome, com um tom de evidente deboche, sumiu em segundos, numa nuvem de vapor branco. João nunca mais fez ou praticou o mal a ninguém, nunca mais pegou o que não fosse seu e, tampouco, enganou quem quer que fosse. Procurou ser realmente sincero e manter amizades sinceras e normais, porém, ficou sozinho e viveu recluso, nunca mais se envolvendo com ninguém, pois temia ferir quem entrasse em sua vida e de ter de encarar mais uma vez o gato preto.

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